Ouvi este podcast (ótimo podcast, apresentadores e convidado) no carro e foi uma abordagem divertida e interessante do atual debate sobre IA e data centers. Mas considero esse debate tão absurdo que mal consigo tolerá-lo. Eis o motivo pelo qual tive vontade de entrar na contramão...
Estou ouvindo um podcast da Bloomberg sobre finanças e capitalismo, e eu mesmo sou um capitalista (relutante) que acredita que o grande trunfo do capitalismo é produzir mais daquilo que existe demanda. E conforme a conversa se desenrola, tudo gira em torno de como...
Esses data centers estão surgindo em vários lugares e elevando os preços da eletricidade. E eu concordo com essa história, mais uma vez como capitalista, e estou esperando a parte em que começarão a falar sobre oferta e demanda, e que o aumento do preço da eletricidade é um indicador óbvio disso.
MAS ISSO NUNCA ACONTECE. A conversa nunca se volta para o que deveríamos construir mais para reduzir os preços da eletricidade! Em vez disso, permanece focada neste tópico desconcertante (para mim, um capitalista) sobre o que muitos dizem que deveríamos construir MENOS (ou seja, data centers, IA).
(Novamente, isso não é necessariamente culpa do episódio -- o episódio trata explicitamente do Discurso, o que estou descrevendo aqui é apenas o Discurso, que me faz sentir como se estivesse perdendo a cabeça. Enfim...)
Ao ouvir isso, você poderia pensar que esses data centers surgem como parasitas gigantes, sugando a energia da Terra e canalizando-a para um buraco negro, para que ninguém mais possa usá-la. Como se houvesse uma quantidade finita de energia, como petróleo no subsolo, e eles a estivessem desperdiçando.
Mas é claro que não é isso que está acontecendo!!!!!!!! Em primeiro lugar, os data centers estão transformando eletricidade em PIB! Todo mundo sabe disso! Os data centers são capital economicamente produtivo. Usamos essas coisas para trabalhar. A eletricidade está sendo usada para gerar produção!
E se a eletricidade do data center for dedicada à IA, então ela está sendo consumida porque há demanda por IA por parte das pessoas que a utilizam, demanda essa criada pela combinação eletricidade => data center. Se não houvesse demanda por IA, não haveria consumo de energia para IA do qual reclamar!
Além disso, quando uma oficina mecânica local na Geórgia publica um anúncio no Facebook oferecendo seus serviços, ELES ESTÃO USANDO ENERGIA DE UM DATA CENTER. Quando usam o QuickBooks para processar a folha de pagamento, ELES ESTÃO USANDO ENERGIA DE UM DATA CENTER. Quando assistem à Netflix no saguão... o que estão fazendo? Que tipo de eletricidade estão consumindo?
Então, os data centers são apenas instalações industriais que todo mundo — e eu digo todo mundo mesmo, em toda a economia — usa para transformar eletricidade em trabalho produtivo, entretenimento, respostas de tarefas escolares e PIB. Então, se eles consomem eletricidade a ponto de o preço dela subir, o que poderíamos fazer?
Bem, aparentemente, o que eu entendi desse discurso completamente insano sobre data centers é que deveríamos simplesmente reduzir tudo o que fazemos com data centers e eletricidade. Porque, aparentemente, não somos capazes de conceber a ideia de PRODUZIR MAIS ELETRICIDADE.
De alguma forma, a ideia de construir mais usinas de eletricidade está simplesmente descartada. Mais uma vez, o preço da eletricidade está subindo, mas o debate não se trata de produzir MAIS para reduzir o preço. Em vez disso, trata-se de produzir MENOS de uma coisa. Em que planeta estamos?!
Por que toda a energia política se concentra no que deveríamos ter menos, em vez de no que deveríamos ter mais?! A China está adicionando gigawatts-hora em um ritmo histórico. O Brasil também está adicionando toneladas de eletricidade.
Espera aí, onde mais eu vi a China e o Brasil mencionados? Foi neste gráfico postado por @matthewstoller, onde eles estão no topo como países que adoram inteligência artificial. Será que existe alguma conexão? 🤔
Enfim, estou tendo um daqueles momentos de "já nem reconheço mais este país", e não é por causa do excesso de estrangeiros, mas porque agora estamos mais motivados por aquilo que todos deveríamos construir menos do que por aquilo que todos deveríamos construir mais.


